23 outubro 2011

POESIA CONTEMPORÂNEA
























Adélia Prado

Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, Sua estréia individual acontece em 1976, com Bagagem, livro que chama a atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo. Em 1978 escreve O Coração Disparado, com o qual conquista o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo. Nos dois anos seguintes, dedica-se à prosa, com Solte os Cachorros (1979) e Cacos para um Vitral (1980). Volta à poesia em 1981, com Terra de Santa Cruz. Em seguida, publica Componentes da Banda (1984), O Pelicano (1987) e O Homem da Mão Seca (1994) . Seus dois últimos livros, lançados em 1999, são o romance Manuscrito de Felipa e o livro de poemas Oráculos de Maio.

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Com Licença Poética



Quando eu nasci, um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

_ Vai carregar bandeira!

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

Acho o Rio de Janeiro uma beleza e,

ora sim, ora não,

Creio em parto sem dor.

Mas o que eu sinto, escrevo; cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos:

_ dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree;

já a minha vontade de alegria,

Sua raiz vai até o meu mil-avô...

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.



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Ensinamento



Minha mãe achava estudo a coisa mais fina

do mundo. Não é. A coisa mais fina do

mundo é o sentimento. Aquele dia de noite,

o pai fazendo serão, ela falou comigo:

 "Coitado, até essa hora no serviço pesado".

Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo

com água quente. Não me falou em amor.

Essa palavra de luxo.




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