Sabe quando você apaga a última lâmpada da
sua casa, seus olhos não se acostumam à escuridão e você sente aquele frio na
espinha? Não importa se é criança, adulto ou velho...
Você sempre sente o ar esfriar de repente
em profunda escuridão, como se seu sangue gelasse só por estar naquele ambiente
sombrio.
Quase todas as pessoas deixam a luz do
quarto acesa e se foca a luz no caminho
de volta, outras quando apagam as luzes, caminham rapidamente de volta ao seu
quarto, mas poucos olham para trás e observam o que está às suas costas...
Você sabe que não tem nada lá atrás, pelo
menos é o que você quer acreditar...
Mesmo quando você está deitado, tentando
pegar no sono, e ouve barulhos estranhos no porão, no corredor, na cozinha ou mesmo
no banheiro, você ignora, tentando raciocinar no que poderia ter causado tais
eventos sonoros, como o vento ou algum objeto que caiu pela casa... As crianças
têm muito medo disso, porém são criadas para ignorar e acreditar que não há
nada de sobrenatural lá...
Eu acreditava...
Meus pais foram viajar nas vésperas do
verão do ano passado, deixando alguns trocados para eu comprar o que comer.
Eles ficariam fora exatamente uma semana, mas isso não mudaria nada para mim,
pois eu trabalhava como estagiário o dia todo e ficava até tarde na faculdade,
pois eu estava no último semestre e tinha que passar de ano, caso contrário não
iria conseguir ser promovido. Chegava cansado todo dia, dava um “oi” para minha
mãe, comia um lanche, tomava um banho e ia dormir. Minha rotina.
Mas não foi assim que ocorreu naquela noite
em que meus pais viajaram...
Ao sair da faculdade, me deparei que estava
demasiadamente exausto, com enxaqueca e dor na vista, cumpri meu rigoroso
ritual até o quarto, fechei minha porta e minha janela como de costume. Deitei meu corpo exausto na cama onde logo
adormeci.
Acordei pela madrugada com muito frio,
notei que havia algo fora do normal pelo meu quarto, uma corrente de ar gelado
que me fez correr um frio na espinha. Logo percorri o olhar pelo quarto
procurando a fonte de tal brisa e percebi que minha cortina fazia movimentos
sutis. Levantando-me da cama, senti mais um arrepio, mas estava entorpecido
pelo sono e então não dei muito importância para o fato. Aproximando-me da
cortina coberta pela luz do luar percebi que a janela estava aberta, uma fresta
com espaço suficiente para uma criança passar. Imaginei ainda com o sono que a
havia esquecida aberta.
Fechei a janela, me certificando de que não
houvesse mais a possibilidade de ela abrir-se. Virando-me percebi que minha
garganta estava um tanto quanto seca, resolvi ir até a cozinha pegar um copo da
água e ao passar pela porta, a qual estava aberta, o que não era normal- não
consigo dormir com ela aberta, me sinto deveras inseguro-.
Esta é aquela hora em que mil
possibilidades de possíveis tragédias passam pela mente. Com o peito apertado,
acelerando a respiração e sentindo a tensão invadindo meu corpo assustado resolvi
entrar, com um punho cerrado e a outra mão tateando as paredes na escuridão tenebrosa
do corredor que dava acesso ao quarto de meus pais e ao banheiro em busca de um
interruptor. Acendendo a luz consegui me acalmar um pouco, estava com as mãos
trêmulas e suando frio com apenas uma questão em mente: “O que ou quem abriu a
maldita janela e a maldita porta!?”.
Estava suando frio, sem sentir as pontas de
meus dedos, o medo havia tomado conta do meu consciente e a adrenalina estava
prestes a ser injetada em meu corpo. Desci as escadas com a mão no corrimão,
com muito cuidado, olhando para o seu final esperando encontrar algo. Havia um silêncio, um silêncio fúnebre e um
ar gelado que pairava no ar, a essa altura eu estava tremendo.
Terminando o lance de escadas me aproximei
da sala, checando cada canto escuro, cada lugar onde seria um potencial local
de onde haveria a possibilidade de surgir algo, qualquer coisa, qualquer coisa
que viria para cima de mim. Novamente o frio percorreu minha espinha, acendi a
luz da sala, olhei ao redor, nada.
Aproximando-me da entrada da cozinha ouvi
um som agudo, um miado, que na hora parecia algo muito pior, me assustei dando
um salto que achei que fosse alcançar o teto, era o meu gato. Tudo fez sentido,
claro, ele abriu a porta que eu devo ter deixado encostada, tentei me acalmar
acreditando nisso, acreditando que eu estava paranoico, que tudo não passava de
fruto da minha fértil imaginação, pelo menos era o que eu queria acreditar.
Abri a geladeira, peguei o jarro de água, enchi um copo e tomei.
Retornando para o
meu quarto, apaguei a luz da cozinha, chamei pelo gato, nenhuma sinal dele.
Subi o lance de escadas, cheguei no corredor, estava escuro, as luzes apagadas,
exatamente o contrário de como eu havia deixado. O medo voltou e senti um
terror, como se todo o meu sangue houvesse congelado. Uma sombra, sim, uma
sombra que cortava a luz do luar que penetrava meu quarto.
Com o desespero
provocando tremores, lembro-me da pistola de meu pai, uma herança de família.
Em três passos cheguei ao quarto de meus pais, abri a gaveta e na velha caixa,
encontrei a arma. Senti um alívio momentâneo e uma sensação estranha ao tocar
no metal gelado. Com a arma em mãos fui até o corredor, me aproximei da porta
do meu quarto, respirei fundo e entrei com o dedo no gatilho, mas não havia
nada lá.
Um baque vindo da cozinha me fez virar
rapidamente, havia algo lá embaixo. Corri até as escadas e comecei a descer os
degraus. Senti uma dor no pé direito e perdi o chão. Senti-me caindo em um
vazio na escuridão e de repente tudo se apagou. Apenas escuro...
“Pi... Pi... Pi... Pi...” Este zunido me
fez acordar. O lugar era claro, o ar fresco e um odor peculiar. Meus pais
estavam me olhando deitado em uma cama meio desconfortável. “Cancelamos a
viagem até você se recuperar totalmente, filho.” Percebi que estava em um
hospital.
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