Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor
para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, em
que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua
cabeleira negra e seu estradivarius. Há mãos e pernas
de dançarinas arremessadas na explosao. Corpos
irreconhecíveis identificados pelo Grande
Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de
sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos
poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu
último salto de banhista, mais rápida porque vem sem
vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas,
como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao
ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas,
e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas
riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para
uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres
mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine
ainda vem dormindo, tao tranquila e cega! O amigos, o
paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma
estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove
sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes
que pensam que e o arrebol.
( Jorge de Lima )
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