30 novembro 2016

ETERNIDADE





















POR QUE ESSE MEDO TODO DO FIM, SE, APÓS ELE, VOLTAREI A SER O QUE SEMPRE FUI?!



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21 novembro 2016

O MELHOR DIA DOS PAIS



    Não muito feliz, por ser véspera do dia dos pais, em função de ter sido abandonado por tal membro da família, Dr. Vicente Schimeli dedica o seu domingo a um plantão no hospital. Torcia para que nada mais grave acontecesse, para que não precisasse realizar nenhum processo cirúrgico.
    Até aquele momento, tudo estava tranquilo, nada de muito grave acontecera. Continuou assim ao longo do dia. Eis que Dr. Vicente percebe um alvoroço com a chegada da ambulância.     
   Então procura saber o que aconteceu. Os paramédicos informaram-lhe que um homem havia sofrido um grave acidente.      
    O homem tinha aproximadamente 60 anos e precisaria de cirurgia urgente, porque as ferragens do carro haviam entrado em seu peito.
    Sabendo da situação do homem e da gravidade do acidente, entrou em contato com o centro cirúrgico, com o propósito de ver se já podiam encaminhá-lo para a sala de cirurgia. Uma das enfermeiras o informa pelo telefone:
     - Dr. Vicente, o cirurgião do hospital acabou o seu plantão há algumas horas e já foi para casa. O único com capacidade de realizar tal procedimento é o senhor.
    Dr. Vicente entra em desespero por ter uma vida em suas mãos. Pensa na possibilidade de transferir o paciente para outro hospital, porém o mesmo está entre a vida e a morte, e não resistiria ao tempo de transferência.
    Muito nervoso, vagando pelos corredores do hospital, pensando na situação, encontrou uma família aos prantos.  A família, ao ver o Dr. Vicente, implora por notícias de seu familiar, o qual tinha dado entrada no hospital fazia muito pouco tempo. Ao perceber que aquela família falava do mesmo paciente cujas ferragens haviam-no perfurado, respira fundo e esclarece:
    - O paciente se encontra em um caso muito grave e precisará passar por uma cirurgia de grande risco. Infelizmente, o cirurgião especializado neste caso encerrou seu plantão. O único com disponibilidade para realizá-la sou eu, apesar de não ser minha especialidade clínica, farei tudo o que puder para que ele sobreviva.
    A família, ainda muito nervosa, é encaminhada à sala de espera. Dr. Vicente é tomado pelo nervosismo ao dar-se conta de que terá que realizar a cirurgia e superar seu medo. Então, coloca a roupa apropriada para a intervenção cirúrgica, faz suas orações e se encaminha para realizar o procedimento. Depois de longas horas angustiantes, Dr. Vicente, mais tranquilo, vai até a família para dar a notícia.
     - Fico feliz em dizer-lhes que tudo ocorreu bem, mas, como ele sofreu um grave acidente, precisará ficam em observação por mais alguns dias.
    A família respira aliviada, agradece-lhe insistentemente e pergunta quando poderiam vê-lo. Dr. Vicente baixa a cabeça por um segundo e pensa em uma resposta. Finalmente, fala:
    - Desculpem-me, mas por enquanto ele não pode receber visita. Pelo menos nas primeiras horas, não! O caso é grave e precisamos esperar que ele acorde.
    Assim, passaram algumas horas, Dr. Vicente foi até o quarto do homem para olhar sua ficha. Afinal, quando ele acordasse, seu médico saberia, ao menos o seu nome. Logo, entrou no quarto e só ouvia o barulho das máquinas que o auxiliavam a respirar. Estava tudo aparentemente certo, pegou a ficha e lá estava: Mauro Schimeli, 60 anos, e mais todos os detalhes que só convinha aos enfermeiros e médicos. Então, faz algumas anotações e sai do quarto com a impressão de que, além do sobrenome em comum, esse nome também lhe era familiar.
    Ao amanhecer do dia dos pais, Dr. Vicente é chamado por uma das enfermeiras para avisar que o senhor Mauro havia acordado.
    Encaminha-se ao quarto para ver como ele está, informa-o que levará sua família ao seu encontro. Dr. Vicente leva a família ao quarto do paciente e sai para deixá-los à vontade. Aproveita para fazer uma ligação para sua mãe e pede algumas informações sobre o seu pai. Sabendo dos detalhes, fica atônito e desliga o telefone.
   Enquanto o Dr. Vicente falava ao telefone, a família continuava no quarto, conversando com o Mauro. Ele, ao saber o que havia acontecido, fica feliz e muito aliviado por ter sobrevivido, e questiona a sua família o nome do homem que lhe havia salvado a vida.
    É então que Dr. Vicente retorna ao quarto, e após alguns minutos de conversa e informações trocadas com Mauro, se dá conta de que tudo aquilo não se tratava só de uma coincidência. Mauro, então, com um sorriso no rosto e um olhar emocionado, exclama ao médico:
    - Obrigado por ter salvado minha vida, meu filho!
    - Foi uma honra, meu pai!
    A comoção tomou conta de todos que se encontravam no quarto do hospital.


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Conto de autoria das alunas: 

Letícia Torres da Silva e Taciana Deglmann 

Alunas do 1° ano do Ensino Médio - Turma 01 


(SENAI - SUL - 2016)


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16 novembro 2016

FRIEDZ





Friedz

Ruídos. Meus constantes despertadores, ou de tiros, ou gritos, com sorte...trens. Felizmente, refiro-me ao terceiro caso. Mas meu destino não é tão feliz.
A janela embaçada. De dentro do trem é evidente o frio que faz lá fora, a pouca vegetação à vista é incrustada com flocos de gelo. Até o clima mostra a desgraça da vida atualmente... digo, sobrevivência.
Todos pensávamos que a I Guerra seria a pior guerra de todos os tempos; os conflitos, e as trincheiras... Hoje, no começo do 3º ano da II Guerra; é evidente que não. Não sei o mal que fiz para merecer viver na mesma época do Führer. E pior ainda, ser um “saudável” soldado alemão.
- Friederich! - Meu colega me chama, sem muita afeição, tirando-me de meu monólogo interior. Hora do serviço. Hora do trabalho sujo.
Ao sair do trem, o ar gelado colide com a minha pele branca. Ariana. Olho ao meu redor e vejo a confusão onde ela me colocou, o destino do trem. Ao ver todas as pessoas aqui, seu nome vem em minha mente. Ben!
Saio da multidão sem nenhum soldado, o que pode me causar problemas, mas os dizeres na entrada da minha futura casa me chama atenção. “Arbeit Macht Frei”, “O trabalho liberta”; nazistas e seu doente senso de humor.
Entro no temido campo de Auschwitz, daqui posso assistir de longe o desespero dos judeus que estão a caminho. Tirados de suas famílias, trazidos a uma experiência de iminente morte lenta. Tudo porque apenas um homem decidiu odiá-los. Doentio e nojento. Pobre Ben; ele não merecia isso; eu não merecia isso. Hitler merece, ninguém mais.
O melhor de tudo? Estou aqui para representar o orgulho da raça ariana. Nazifascista adepto, soldado alemão, jovem. Se eu não passar tal imagem, serei tão punido quanto eles. Estou aqui para representar o que mais odeio no mundo; eu nunca perdoarei a Alemanha por isso. Não tenho ninguém, sou completamente sozinho... Pelo menos, não tenho mais. No fim do ano retrasado, em Sachsenhausen, outro campo, cheguei perto de sair dessa solidão horrível. Eu cheguei ao campo com o mesmo ódio e raiva que sinto hoje, com a expectativa de morrer em algum combate inesperado, sem a coragem de fazê-lo eu mesmo.
No primeiro dia, chorei durante a noite. Bati em quatro judeus, senti mais dor que todos eles juntos. No segundo, quis matar um nazista que quase matou um judeu. No terceiro, deixei de sentir. Os dias foram se passando e cada vez eu era mais odiado pelos nazistas do Campo, cada vez eu os odiava mais. Na noite do ano novo, algo inesperado aconteceu. Os nazistas estavam na festa deles, divertindo-se maltratando algum judeu infortunado, bebendo, fumando seus charutos. Como era conhecido em não ser como eles, cruel, não fui convidado; fui obrigado a me apresentar para o serviço.
Eu tive de passar a noite fria guardando a despensa, onde guardávamos a única refeição que eles tinham por dia. Eu e Rudy, outro soldado que não era popular, passamos a noite ali.
Rudy acabou adormecendo. Eu não me dou ao luxo de descansar, não quando há tanta morte ao meu redor. Ouço os fogos e gritos. Ótimo, estamos em 1940; mais 365 dias de desespero. Pergunto-me, com certa esperança, se a guerra acabará este ano...
Um barulho me desperta de meus pensamentos. Meu coração dispara, não quero ter que ser um nazista agora. Olho para os lados, rondo a pequena despensa e vejo um jovem da minha idade, uns 20 anos, com sua roupa listrada e seu número estampado no peito. Ele quase alcança um pedaço de pão no canto da cesta, com um olhar esperançoso e sua mão esticada. Até me perceber. Seu olhar passou a demonstrar desespero.
 Em questão de segundos ele correu como um animal. Pensei em deixá-lo ir, fingir que não o vi, mas não pude. Agarrei aquele pedaço de pão que ele não pôde pegar, e me vi fazendo algo nada planejado.
- Ei! -  Corri atrás dele. - Pare aí mesmo!
Quando ele viu que eu estava perto, desistiu de correr. Parou, olhou em meus olhos e se ajoelhou; seu rosto encostava no chão; pude ouvi-lo chorar.
- P...Por favor...Eu não... - Ele se contorce - Tenha misericórdia, eu...
- Ei. - Eu o interrompi, jogando o pão em suas costas - Na próxima vez não tente fugir.
Então, foi a minha vez de correr como um animal. Parei para pensar o quanto isso é errado para os nazistas, e isso me fez dar gargalhadas.
Depois disso tive uma grande ideia. Talvez se eu ficasse sempre na despensa, poderia ajudar mais pessoas. Talvez eu estivesse muito desesperado, muito culpado, eu não sei; mas a sensação que tive ao ajudar aquele jovem, foi... boa. Sensações boas em plena II Guerra Mundial? Estranho! Mas o melhor tipo de esperança é aquela que nasce em meio à tempestade.
Consegui ficar como guarda na despensa. É claro que sim, é um cargo pouco estimado, sem honra; de madrugada, ... o general até riu. Eu ri por último!
Na primeira noite, fiquei rondando o lugar, com a esperança de que um pobre coitado pedisse algo. Qualquer coisa. Nada! Na segunda noite, adormeci. Acordei com minha própria raiva e desapontamento. Como pude descansar? Não há descanso para mim.
Na terceira, quando minha esperança já estava no fim; algo finalmente aconteceu. Na fria madrugada, o mesmo jovem, veio correndo e parou na minha frente; ele parecia amedrontado e destemido ao mesmo tempo.
- Por que você me ajudou no outro dia? - Ele pergunta com uma voz firme.
- Eu não sou como os outros - A firmeza em minha voz saiu de algum lugar desconhecido.
- Eu sou Benjamin! - Ele estende a mão.
- Sou Friederich!
- Então, Friederich; conte-me sua história - Ele entra na despensa e pega um pão. É mesmo destemido.
Conversamos durante a madrugada, pensei que, se estivéssemos na escola juntos, seríamos bons amigos. Tínhamos diversas coisas em comum.
- Eu preciso “acordar” daqui a uma hora, preciso ir.
Pego outro pão e jogo para ele.
- Ei! - Ele o pegou - Não tente fugir!
Ele sorriu e foi para o dormitório.
Benjamin mudou a história da minha II Guerra, viramos mais que amigos, irmãos. Sua amizade, poder ajudá-lo, foi a melhor coisa que me aconteceu.
Pela primeira vez, tudo parecia bem. Eu esperava as noites para falar com Ben. Naquele dia, eu preparei uma surpresa para ele. Consegui mais do que pão; biscoitos e chá; Apenas imaginava o quanto ele ficaria feliz.
Saio do meu quarto e o dia parecia tenso, os nazistas estavam felizes, os judeus aparentavam estar mais miseráveis ainda. Conheço essa atmosfera. Meu coração palpita, e sinto meu estômago embrulhar, dia de Câmara. O nome aparece em minha cabeça, e eu não disfarço o desespero. Ben.
Vi a tabela no salão dos nazis. Hoje todo quarto 173 será eliminado; Todos os judeus que têm dos números 150 até 180. Penso, Ben...1...6...3. Não, não pode ser.
Vou até a câmara, procuro Ben, grito “163”, tento chamá-lo, talvez mentalmente? Nada.
Todos os judeus entraram, meu coração aperta, ele se foi sem dizer adeus. Não tentou fugir.
Droga, Ben, eu queria que você tivesse fugido.
                                                                         ...
No ano de 1972, eu volto à Polônia. Não era meu desejo, ainda odeio os lugares da guerra. Minha esposa Grace insistiu, ela queria ir aos lugares sobre os quais eu contava minhas histórias de guerra; eu nem tanto, mas não nego nada à minha Grace.
Passamos pela frente do campo e as feridas nunca cicatrizadas em meu coração reacendem um pouco. Decidimos andar pelo centro de Oswiecim, a cidade mais perto dali. O nome de uma certa padaria me chama a atenção. “Friedz”. Um pouco parecido com meu próprio nome, de forma reduzida.
Entro lá e vejo um homem servindo os clientes e sorrindo, pergunto-me se ele esteve na guerra, parece ter a minha idade. Comemos e pagamos; abraço Grace e viro as costas para a simpática padaria. Algo macio e quente é jogado em meu ombro, é um pão.
- Ei - Escuto o mesmo homem falar - Da próxima, tente não fugir.
Sorrio, ainda de costas para ele, e vou ao seu encontro com lágrimas nos olhos.

                                                           ...

Conto de autoria das alunas: Ana Júlia de Lima, Isabella Pensky, Júlia Gebien e Meryllin Eduarda.  

Alunas do 1° ano A. (CSA - 2016)


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FIM DA JORNADA!!