Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. **************************************************** (Carlos Drummond de Andrade ) |
29 janeiro 2013
AMAR
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
1. Em relação à concordância nominal, a ordem que preenche corretamente as lacunas é : I. Justiç...
-
01. A opção em que a oração subordinada pode ser considerada adverbial condicional é: a) Desde que o...
-
01. Assinale a alternativa correta: “Pedro e João ____ entraram em casa perceberam que as coisas não iam bem, pois sua irmã caçula...
Nenhum comentário:
Postar um comentário