Adélia Prado
Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, Sua estréia individual acontece em 1976, com Bagagem, livro que chama a atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo. Em 1978 escreve O Coração Disparado, com o qual conquista o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo. Nos dois anos seguintes, dedica-se à prosa, com Solte os Cachorros (1979) e Cacos para um Vitral (1980). Volta à poesia em 1981, com Terra de Santa Cruz. Em seguida, publica Componentes da Banda (1984), O Pelicano (1987) e O Homem da Mão Seca (1994) . Seus dois últimos livros, lançados em 1999, são o romance Manuscrito de Felipa e o livro de poemas Oráculos de Maio.
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Com Licença Poética
Quando eu nasci, um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
_ Vai carregar bandeira!
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
Acho o Rio de Janeiro uma beleza e,
ora sim, ora não,
Creio em parto sem dor.
Mas o que eu sinto, escrevo; cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos:
_ dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree;
já a minha vontade de alegria,
Sua raiz vai até o meu mil-avô...
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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Ensinamento
Minha mãe achava estudo a coisa mais fina
do mundo. Não é. A coisa mais fina do
mundo é o sentimento. Aquele dia de noite,
o pai fazendo serão, ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo
com água quente. Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
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